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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Roupas


 
Passei a vida vestindo-me funcionalmente. A roupa sempre deveria servir-me e não o contrário. Não entendia mulheres sofrendo com sapatos e homens passando calor. Repudiava pessoas que gastavam em uma calça o que eu gastava em dez. As roupas precisavam ser confortáveis, servir para qualquer ocasião, funcionais.
Uma supervisora de um dos meus trabalhos um dia conversou comigo e perguntou-me por que eu não me vestia mais condizentemente. Perguntei a ela: "condizentemente com o quê? Com minha função? Com a temperatura? Cheguei até aqui sendo quem eu sou, por que trocar a roupa agora?". Moletons e camisetas sempre me foram mais adequados do que camisas e coletes. Foi então que troquei de empresa e resolvi experimentar, pois os questionamentos que ela havia plantado em minha cabeça teimavam em florescer. Passei a usar camisa, sapato, calças de marca, camiseta polo, etc.. Abandonei moletons, camisetas, tênis e calças de baixa qualidade.Confesso que depois de experimentar a primeira calça "boa" minha visão mudou, irrevogavelmente. As roupas vestem melhor, sentam e ajustam melhor ao corpo, duram mais, são mais confortáveis. As camisas eu demorei um pouquinho mais, mas o retorno colaborou bastante para que eu acostumasse rápido.
Sapatos para homens não machucam, felizmente, então não houve problema. Mas o grande ponto que quero citar é que empiricamente senti, de forma drástica, como funciona a sociedade no que concerne ao tratamento das pessoas apenas pelas vestimentas. Pessoas que compartilhavam a mesma função, com o mesmo salário, tratavam-me diferente, com reverência, meus chefes dirigiam-se a mim com mais respeito e consideração, colegas de outros setores até hesitavam em ter comigo. O efeito negativo é que afasta um pouco as pessoas, mas profissionalmente, é deveras positivo.
Experimente vestir-se mal e ir às compras em um shopping center. Será atendido com desdém, descaso, e provavelmente nem terá o produto que deseja oferecido pelo vendedor. Espere passar uma semana, vista-se bem e retorne a mesma loja, com o mesmo vendedor e perceba a diferença no tratamento.
Vá a qualquer estabelecimento que trate com o público. Fiz o teste com minha namorada. Fomos intercaladamente, um bem vestido e outro casual. As atenções das pessoas eram sempre para quem estava bem vestido. As saudações tradicionais, as reverências formais, o zelo no trato. Chegou ao cúmulo de darem boa tarde para mim quando estava bem vestido e para ela não, e no mesmo local, quando invertemos, a situação inverteu.

Isso é, no mínimo, revoltante. Nossas roupas não deviam fazer com que as atitudes das pessoas mudassem conosco. Deveriam fazer nos sentirmos melhor e pronto. Porém, se hoje em dia você não se vestir adequadamente, de acordo com certos padrões sociais, será automaticamente deixado de lado, preterido em relação a outras pessoas que talvez não tenham o mesmo conteúdo e potencial seu.
Digo por experiência própria. Depois de, contra as regras, conquistar meu espaço no mercado profissional através da competência, mediante muito esforço, ao reformar o guarda roupa tudo clareou. Não preciso mais ficar uma semana mostrando números e projetos, provando que o que digo é certo. Poucos argumentos são suficientes e as pessoas dão crédito precedentemente.
Faça o teste e confirme. As roupas mudam o tratamento das pessoas com você. 



Publicado em: A Tribuna Regional no dia 17.12.2011
Editado/corrigido/pitaquiado por: Thiago Severgnini de Sousa e Ana Leticia Silva
Escrito por:  @rjzucco

Um comentário:

  1. Por que julgamos as pessoas de acordo com a quantidade de roupas que elas estão usando?

    http://super.abril.com.br/blogs/como-pessoas-funcionam/por-que-a-ideia-que-temos-sobre-alguem-muda-de-acordo-com-a-quantidade-de-roupa-que-ela-esta-usando/?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super

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