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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Ninguém é uma Ilha

Segundo o poeta John Donne, do século 16, nenhum homem é uma ilha, e eu concordo. Tudo bem que somos todos produtos do meio e como tal sofremos influências sociais, as quais moldam nosso caráter, mas também somos inteligentes o suficiente para sabermos que todo ser humano é lapidável e pode aprender, crescer, mudar e evoluir quando achar que deve.
Ocorre que vivemos em uma época de insatisfação e infelicidade, pois fomos ensinados a consumir, a ter, a ir pelo mais fácil e quando não conseguimos isso em alguma instância, nos deprimimos. Aliás, este é um dos motivos pelo qual a depressão é a doença da moda.
Quantas pessoas que você conhece são felizes? Quantas levam a vida em plena alegria? Quantas lhe contagiam com alto astral e raramente ou nunca falam de problemas e coisas ruins? Quantas encaram adversidades como estímulo e desafio? É... hoje em dia as pessoas estão acostumadas a viver a margem da realização, sempre esperando o carnaval chegar. Conheço pessoas que estufam o feito para falar "sou eternamente insatisfeita!", mas e daí? Daí que pessoas assim assistem a vida passar e depois de um tempo, olham para trás com arrependimento. As que se flagraram e resolveram tomar atitudes agora vivem a vida, se arriscam mais, dão a cara a tapa, se aventuram, tentam, fazem, enfim... têm atitude. Algumas apenas se deprimem por não ter uma vida como gostariam e colocam a culpa nisso ou naquilo, mas não entendem que são as verdadeiras responsáveis por seu estado de inércia emocional. Há também as pessoas que sequer enxergam que têm esse problema, vivem uma vida inteira - que já é extremamente breve - crendo que estão certas, mas de fato não vivem.
Não lhe parece inteligente que quando algo não está certo deva ser mudado? A pergunta que deve lhe ter insurgido a cabeça agora é: "Acha que é fácil?" Em momento algum eu disse que atingir a felicidade era algo fácil, mas, convenhamos, o que é mais difícil, atravessar uma vida toda assistindo os cavalos da oportunidade passarem diante dos seus olhos sempre pensando no "e se" e por fim conformando-se num trono de infelicidade quase que permanente com apenas instantes de efêmera felicidade ou arregaçar as mangas e ir a luta?
Perceba que simplesmente ao assumir a atitude de correr atrás da felicidade já fará com que a pessoa encare os momentos com outra postura e isso trará, de imediato, algum resultado positivo. O passado é nostalgia e o futuro uma incógnita, e você não tem nada além do presente para desfrutar. Encare o presente como um presente. Não espere ter dinheiro, ter emprego, se formar, casar, ter filhos, etc., para aí então ser feliz. Quem lhe garante que amanhã terá a mesma saúde? O que vai contar para seus netos? Terá netos sendo uma pessoa vazia?
Bom, voltando ao assunto da ilha, é certo que todos gostam de alguém ao seu lado e eventualmente atrelam a felicidade a isso. Faz sentido e não creio que de fato, uma pessoa se realize se não conseguir compartilhar bons momentos ao lado de alguém que possa amar e se entregar - ninguém é uma ilha. Mas deve-se ser feliz sempre, mesmo antes de encontrar o que chamam de alma gêmea. Só que o "mercado" oferece muita fartura e é mais fácil desistir da pessoa que tem algum defeito e procurar a perfeição em outra do que insistir naquela que, apesar de ter defeitos, tem cumplicidade. Vejo pessoas que são apaixonadas por outras, com uma química que possibilita a quem está perto enxergar faíscas, que se entendem bem com pele, que conversam por horas a fio, que se gostam, mas que acabam se desistindo por não querer ceder, por não saber aceitar ou relevar aquela(s) característica(s) especifica(s), depois acabam procurando as tais qualidades em outras pessoas.
Todo relacionamento é único e tem pontos positivos e negativos, a minha pergunta é: Por que as pessoas não investem nas outras? Por que não insistem? Por que preferem abrir mão a tentar? Por que têm medo de se expor, de sentir, de se entregar, de saírem da casca? Por que enxergam e valorizam mais os defeitos nos outros do que as qualidades? Por que se pseudo-envolvem? Tenho um primo que namorou uns 10 anos, e sempre foi uma bagunça de volta e acaba. Uma pessoa infeliz diria, por que não acaba logo se já viu que não dá certo? Por que não procura outra pessoa? Vejam, esse é o pensamento do ir pelo mais fácil, do mercado com muita oferta. Essas pessoas não entendem que um olhar da pessoa que se gosta é único, que eles estão permanentemente se ajustando, perfeitas metamorfoses ambulantes, e enquanto isso eles vão vivendo felizes. Mas se são felizes, por que acabam? Todo relacionamento tem problemas e a maturidade vem com a experiência. Certamente os problemas resolvidos no passado não tornam a ocorrer. Uma música pra eles significa mais do que para outras pessoas, eles têm a música que toca, um sorvete, um filme, um lugar, um beijo, um cheiro, um momento, um sorriso, um hábito, um apelido... Isso é algo que não tem preço, não pode ser substituído. Percebe que eles possuem "momentos mastercard" a todo instante?
Enfim... quero apenas deixar registrado que se você está com alguém, se entregue, se envolva, faça valer, viva, aproveite, ceda, releve, aceite, beije, cheire, sorria, seja feliz! Não tenha medo de sair da casca e de mostrar quem você realmente é, pois no fim a pessoa que está com você - e aqui se incluem também os amigos - na verdade gosta de quem você realmente é e não de quem diz que é, afinal, você é o que você faz e não o que você fala. Não perca a oportunidade de ser feliz ao lado de alguém que pode lhe fazer feliz por acreditar que algo melhor está por vir, pois pode não vir e você acabar esperando tanto por essa pessoa ideal que vai chegar um momento que você acabará pegando a primeira que aparecer na frente, aceitando todos os defeitos, só pra não ficar mais nesse inferno de solidão.

 Publicado em: A Tribuna Regional no dia 12.10.2012
Corrigido/editado por @analeticiasilva 
@rjzucco
rodrigo.zucco@terra.com.br

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